Agroindústria do imbuzeiro pode oferecer maior renda para as comunidades do Semiárido
O técnico Nilton de Brito Cavalcanti, da Embrapa Semiárido, há mais de
duas décadas realiza pesquisas com imbu, como prefere chamar a espécie
nativa da caatinga. Neste tempo, reuniu um grande acervo de informações
fruto de acompanhamento detalhado, ano a ano, do crescimento e produção das plantas. Afora esses dados, agregou outros recolhidos em estudos de cadeia produtiva e do potencial agroindustrial.
Com base nessa experiência, Nilton faz uma conta interessante e que usa
costumeiramente nas palestras e cursos feitos para agricultores,
agricultoras, profissionais de assistência técnica e extensão rural e
secretários de Agricultura.
Segundo ele, uma planta de
imbuzeiro adulta pode produzir cerca de 300 kg de frutos/ano. Se, como
acontece com o extrativismo, são comercializados in natura ao valor de
R$ 0,25/kg gera uma renda de R$ 75,00/planta/ano. Contudo, ao
transformar em geléia, consegue processar quantidade equivalente a 720
potes de 125 g, que vendido a R$ 2,50 cada pote, a renda cresce para R$
1.800,00.
Se a opção for fazer doce, é possível obter 210 kg
polpa, ou 630 potes de 250 g de doce, que, vendidos a R$ 2,50/pote, gera
R$ 1.575,00. Mas essa mesma quantidade de polpa resulta em 2.100
pacotes de 100 g/cada que pode ser vendida a R 1,05 e receber R$
2.205,00. Estas são decisões que os produtores em associações podem
tomar e obter maiores lucros.
Nilton chegou a esses dados após
um estudo de cadeia produtiva do imbuzeiro onde acompanhou a valorização
que o fruto vai recebendo do momento em que é colhido e vendido nas
margens de estrada até os vários circuitos de comercialização
(atravessadores, supermercados, ambulantes) e as formas de processamento
porque passam em lanchonetes, delicatessens, restaurantes e hotéis.
Por isso defende que a agroindústria do imbuzeiro é uma das principais
iniciativas de convivência com o semiárido. A possibilidade de
instalação de pequenas estruturas de processamento em nível de
comunidades e vinculadas a políticas públicas de âmbitos municipal,
estadual ou federal, pode garantir fonte importante de renda e trabalho
para os agricultores e suas famílias, durante todo ano.
Para
ele, um exemplo bem sucedido é a experiência de mais de 20 do ProCUC nos
municípios baianos de Uauá, Curaçá e Canudos. A organização dos
agricultores nas comunidades, a qualidade e a competência gerencial
fizeram dos seus doces, geleias, polpas, produtos de exportação para
diversos mercados no Brasil e na União Europeia.
Segundo
Nilton, os frutos podem ser transformados em polpa e armazenados por
mais de um ano. Deste modo, os agricultores dispõem de matéria prima
para movimentar a pequena fábrica após o período da safra que acontece
nos meses de chuva. Assim, “dispõem de fonte de renda mesmo na seca”,
afirma.
A qualidade sanitária dos produtos pode ser obtida com
recursos simples e baratos. No caso dos frutos é preciso usar
concentrações de cloro que variam entre 10 a 70 ppm, com tempo de
imersão de 15 a 30 minutos. “Frutos colhidos, ao invés de catadas no
chão, onde as incrustrações em sua superfície são poucas, devem receber
baixas concentrações com um tempo reduzido. Para frutos colhidos no
chão, devem ser utilizadas as maiores concentrações de cloro, por maior
tempo”, explica.
Outro fator importante no processamento de
doce com polpa armazenada em temperatura ambiente é o controle do pH, o
qual deve está sempre entre 2,5 a 3,5, cujo valor inibi o
desenvolvimento de microorganismos patogênicos, entre estes, a bactéria
que provoca o botulismo.
Segundo Nilton, incentivar a
agroindústria do imbuzeiro tem consequências importantes na conservação
do Bioma Caatinga, que tem sido afetado por desmatamento indiscriminados
e a reduzida incidência de plantas novas na vegetação nativa. “A
percepção dos benefícios da preservação do umbuzeiro para as comunidades
pode vir a estimular iniciativas como preparação de mudas enxertadas ou
não com o objetivo de revegetar esse ambiente”, afirma Nilton de Brito.
Colaboração de Marcelino Lourenço Ribeiro Neto, da Embrapa Semiárido, para o EcoDebate, 18/11/2013
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