segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Propostas para Convivência com o Semiárido de Pernambuco – ASA/PE – 2014





Neste documento a Articulação no Semiárido em Pernambuco - ASA-PE apresenta um conjunto de ações/atividades para o Plano Estadual de Convivência com o Semiárido de Pernambuco. Este é um produto do esforço coletivo do conjunto de organizações que compõem a Articulação no Semiárido em Pernambuco - ASA-PE e MST visando à integração de políticas e ações de convivência com o Semiárido em prol da melhoria da qualidade de vida das famílias agricultoras e camponesas e do fortalecimento dos processos de gestão e organização social, contribuindo, assim, para o desenvolvimento rural sustentável na região.
O projeto reúne um conjunto de ações e atividades ancoradas em sete eixos estratégicos de ação, articulados e interdependentes entre si, sendo:

1)    Universalização do acesso a água para consumo humano e para produção de alimentos. 
2)    Combate à desertificação e monitoramento climático
3)    Educação contextualizada
4)    Valorização dos conhecimentos locais e tradicionais
5)    Política de agroecologia (comercialização e ATER)
6)    Democratização da terra e regularização fundiária
7)    Marco regulatório para entidades da Sociedade Civil.


SOBRE A ARTICULAÇÃO NO SEMIÁRIDO DE PERNAMBUCO- ASA-PE

Histórico da ASA-PE


A Articulação no Semiárido de Pernambuco - ASA-PE é um fórum composto por 268 organizações da sociedade civil de Pernambuco, envolvendo Organizações Não Governamentais - ONG´s, Sindicatos, Associações, Igrejas, Pastorais, Cooperativas, entre outros, que se articulam visando a elaboração, execução, avaliação e monitoramento de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar em Pernambuco, a partir de estratégias e propostas de desenvolvimento agroecológico e convivência com o Semiárido.

Sendo uma entre as 11 articulações estaduais que compõem a Articulação no Semiárido Brasileiro – ASA Brasil, em 2009 a ASA-PE completa 20 anos de luta e mobilizações, pautando debates sobre a Convivência com o Semiárido no cenário político Estadual, Nacional e Internacional, visando ações pela construção de um Semiárido mais justo do ponto de vista político, econômico, social e ambiental.

Motivada pelo enfrentamento da problemática da seca no nordeste, essa articulação foi lançada no ano de 1989, enquanto “Fórum Pernambucano de Enfrentamento à Problemática da Seca”, na cidade de Serra Talhada. O “Fórum Seca”, como ficou conhecido, buscava respostas à forma tradicional do Estado em lidar com o Semiárido, especialmente com as estiagens, sendo considerado um marco histórico na luta por políticas públicas permanentes para o desenvolvimento do Semiárido brasileiro.
O pioneirismo e o sucesso do Fórum Seca motivaram a criação de outras articulações estaduais, como a FOCAMPO, no Rio Grande do Norte e a Articulação do Semiárido Paraibano, até culminar na criação da Articulação no Semiárido Brasileiro, a ASA Brasil.

Entretanto, em meados de 1995 o Fórum Seca que vinha passando por um processo gradativo de enfraquecimento, termina sendo desativado, apesar do sucesso na mobilização da sociedade civil pernambucana.  Esta continua atuante no Semiárido, no entanto apenas com ações de natureza esporádica, reativas às secas e a outras crises, e sem perspectivas de um movimento permanente, de longo-prazo.

Esse cenário começa a se alterar a partir de 1999, quando da Conferência das Nações Unidas Sobre Desertificação e Seca - COP III, realizada em Olinda-PE, que se constituiu um forte motivador para a rearticulação da sociedade civil atuante no Semiárido brasileiro. Às vésperas da Conferência, várias entidades pernambucanas se unem a entidades de outros Estados e organizam o Fórum Paralelo à COP III que praticamente “roubou” a cena do evento oficial tendo um forte destaque junto à mídia nacional.

Do evento paralelo à COP III surge a Articulação no Semiárido Brasileiro ASA, e consequentemente a articulação da ASA-PE, que começa a ganhar corpo a partir do início de 2001. O sucesso da ASA-PE traduz-se em sua capacidade atual de articular a sociedade civil em torno de temas importantes como é o caso da educação contextualizada para a convivência com o Semiárido, da agroecologia, do combate à desertificação e da segurança hídrica e alimentar, dentre outros.


As principais ações desenvolvidas e em desenvolvimento e seus resultados


Com a intenção de fortalecer a articulação das organizações da sociedade civil no estado de Pernambuco, a ASA-PE tem implementado suas ações a partir de três estratégias principais:
1. Articulação e gestão de políticas públicas, a partir da discussão, elaboração, execução, monitoramento e avaliação de políticas públicas na linha da convivência com o Semiárido em parceria com o poder público (Federal, Estadual e Municipal);
2. Espaços de execução, monitoramento e avaliação dos programas próprios da Articulação no Semiárido, a exemplo dos Programas de Formação e Mobilização Social: Um Milhão de Cisternas- P1MC e Uma Terra e Duas Águas - P1+2;
3. O fortalecimento das dinâmicas de articulação com a sociedade civil e outros Movimentos Sociais. A ASA PE participa e apóia mobilizações e lutas sociais voltadas para a defesa dos direitos de cidadania no Estado e no País.
Essas três estratégias são centradas numa dinâmica de comunicação interna e externa, baseada na participação, transparência, interatividade e agilidade na circulação de informações, discussão de fatos, idéias e propostas relacionadas ao desenvolvimento humano e sustentável no Semiárido. Essa dinâmica se concretiza partir da promoção de Encontros Estaduais, reuniões, visitas de intercâmbio, oficinas, sistematização de experiências, entre outras.
Atualmente os dois principais projetos que ocupam as organizações-membro, em torno da ASA-PE, e das outras articulações estaduais, sendo: o P1MC e o P1+2. O P1MC apresenta tem como meta principal construir, com a participação das comunidades beneficiárias e de parceiros doadores, um milhão de cisternas rurais no Semiárido brasileiro.
Apresentam, enquanto objetivos comuns o P1MC e o P1+2:
ü  Propiciar o acesso descentralizado à água para consumo humano (P1MC) e produção de alimentos (P1+2) de origem vegetal e animal ás famílias;
ü  Fortalecer a sociedade civil para implementação do programa;
ü  Criar mecanismos que promovam a participação de todos os atores envolvidos na gestão do programa e no controle social;
ü  Melhorar a qualidade de vida das famílias agricultoras da região semiárida, especialmente crianças, mulheres e idosos;
ü  Fortalecer as organizações da sociedade civil envolvidas na execução do Programa, visando garantir as condições necessárias ao desempenho eficaz e eficiente do P1+2;
ü  Implementar um processo de formação que considere a educação para a convivência com o Semiárido e a participação nas políticas públicas;
ü  Difundir, no conjunto da sociedade brasileira, uma correta compreensão do Semiárido brasileiro.
Além desses objetivos, o P1+2, que vem se desenvolvendo a partir das dinâmicas sociais existentes integradas às iniciativas da ASA, visa a garantia da chamada “segunda água”, de forma complementar ao P1MC, para produção de alimentos saudáveis no Semiárido, em busca da segurança alimentar e nutricional das famílias. E apresenta além dos citados, os demais objetivos:
ü  Garantir segurança e soberania alimentar e nutricional às famílias que vivem no Semiárido;
ü  Valorizar as experiências de inovação tecnológica de agricultores e agricultoras;
ü  Possibilitar a troca de conhecimentos entre agricultores e agricultoras através de intercâmbios;
ü  Sistematizar as experiências exitosas de convivência com o Semiárido;
ü  Gerar renda monetária e não monetária, de origem agrícola e não agrícola as famílias agricultoras do Semiárido brasileiro envolvidas diretamente no Programa.
Enquanto resultado da ação desses Programas e suas propostas inovadoras, a ASA tem contribuído com o Brasil no cumprimento das Metas do Milênio, estabelecidas pela ONU em Setembro de 2000. Em seu conjunto essas ações resultam num conjunto de impactos positivos tanto para as famílias como para as organizações que atuam na região, por serem pautadas coletivamente, com a adoção dos princípios da agroecologia, a valorização dos saberes e conhecimentos de agricultoras e agricultores e suas organizações e suas inovações técnicas, o fortalecimento de seus processos de autonomia e protagonismo, as dinâmicas geradoras de processo e interações entre as famílias, o fortalecimento das dinâmicas de organização local como as comissões municipais, outras redes e articulações, e as estratégias de estimulo à participação das famílias no planejamento, execução, monitoramento, sistematização e avaliação dos projetos e atividades.

Nessa perspectiva, além da garantia do acesso à água para consumo familiar e produção de alimentos, essas ações resultam em mudanças reais nas relações locais e regionais de poder, gerando autonomia das famílias frente ao acesso e disponibilidade de água, antes forçadas a permanecer no centro de relações clientelistas e paternalistas diante da demanda por água que caracterizaram historicamente as relações políticas no Semiárido. Outro resultado importante refere-se ao estímulo à participação da população na construção das estratégias de convivência com o Semiárido, pautadas a partir do conjunto de suas experiências acumuladas, com garantida de uma participação eqüitativa de gênero nas atividades diretas de planejamento, execução, gestão, monitoramento e avaliação das ações.

Nesse aspecto um resultado que merece destaque é a forte participação das mulheres na gestão das ações desenvolvidas pela ASA-PE, além da constituição do grupo de trabalho sobre gênero – GT Gênero, que tem garantido o fortalecimento desse debate nas ações desenvolvidas pelo conjunto das entidades. No campo da comunicação, a existência de comunicadores/as populares/as nas regiões tem se constituído uma estratégia positiva de trabalhar a comunicação como estratégia política, potencializando e fortalecendo os espaços de comunicação social, via programas de rádio e boletins de experiências, entre outros. Estes últimos têm possibilitado a circulação de informações pautada num processo de valorização do conhecimento construído e acumulado pelas famílias agricultoras, e possibilidade de irradiação mais ampla das experiências e tecnologias de convivência com o Semiárido.

JUSTIFICATIVA


Propor estratégias e ações integradas de Convivência com o Semiárido não se constitui tarefa simples, visto que implica em construir elementos específicos para uma realidade específica, recheada de particularidades que precisam ser conhecidas e consideradas.

Ao falar em Semiárido, estamos nos referindo a uma região marcada, além de suas características climáticas, geofísicos ou naturais, por um conjunto de especificidades culturais, simbólicas, históricas, sociais e políticas, que exige, antes de tudo, a apreciação das varias estratégias de convivência construídas e acumuladas pelas famílias agricultoras no Semiárido ao longo da história.

No Brasil, a área de abrangência do Semiárido, conforme o Ministério da Integração Nacional – MIN (que considera pelo menos três critérios técnicos, sendo precipitação pluviométrica, índice de aridez e risco de seca), é de mais de 980 mil quilômetros quadrados e envolve 1.133 municípios[1], sendo que sua população corresponde a aproximadamente 13% da população do país, e 46,5% da Nordestina[2].

Fala-se de uma região marcada por profundas desigualdades econômicas e sociais, onde, como destaca Silva (2008) mais de 82% dos municípios com mais de sessenta por cento da população total no Semiárido apresentam baixo Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, não havendo nenhum município no Semiárido brasileiro em que se encontre o IDH em sua faixa mais elevada (entre 0,8 e 1,0).

Essa situação se repete em relação ao estado de Pernambuco, onde aproximadamente 66% dos municípios estão localizados no Semiárido, ou seja, 122 municípios, conforme dados do MIN, abrangendo 88% do território do Estado, ou seja, uma área de quase 87 mil quilômetros quadrados.

No Semiárido pernambucano convivem 40,9% da população do Estado, ou 3.236.741 habitantes, sendo grande parte dessa população (41,4%), habitante das áreas rurais (Brasil 2005b). Aproximadamente 78% dos municípios do Semiárido pernambucano possuem baixo IDH, sendo que a média de IDH entre esses municípios, que é de 0,61, é inferior à média encontrada na região Nordeste do Brasil (0,66), que apresenta o pior IDH entre as regiões brasileiras (Atlas 2000).



EIXOS DE AÇÃO


O Presente projeto está estruturado a partir de sete eixos estratégicos de ação articulados e interdependentes entre si, sendo:

1)    Universalização do acesso à água para consumo humano e para produção de alimentos. 
2)    Combate à desertificação e monitoramento climático
3)    Educação contextualizada
4)    Valorização dos conhecimentos locais e tradicionais
5)    Política de agroecologia (comercialização e ATER)
6)    Democratização da terra e regularização fundiária
7)    Marco regulatório para entidades da Sociedade Civil.

Como centro de referência para a elaboração dos eixos a ASA-PE parte da necessidade de construção de estratégias de Convivência com o Semiárido pautadas nos princípios da agroecologia.

A Convivência com o Semiárido é compreendida aqui, conforme Silva (2008), enquanto um desafio: “o de construir o sentido da convivência”. Isso pressupõe que uma convivência sustentável no Semiárido depende da construção de uma nova mentalidade em relação à suas potencialidades e limites, que resultem alterações nas práticas degradadoras dos seres humanos e da natureza.


[1] Inseridos nos 09 Estados no Nordeste do Brasil (Alagoas (AL), Bahia (BA), Ceará (CE), Maranhão (MA); Paraíba (PB), Pernambuco (PE), Piauí (PI), Rio Grande do Norte (RN) e Sergipe (SE)), além do Norte de Minas Gerais (MG) e Espírito Santo (ES).
[2] Fonte: (Brasil, 2005b). A população total no semiárido é de 20.858.264 habitantes (BRASIL, 2005b).

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